Materialidades e Objectualidades
Sobre Um amor platónico pela matéria
Em parceria com Universidade Lusófona - Centro Universitário do Porto
Em parceria com Universidade Lusófona - Centro Universitário do Porto
André Barata
Universidade da Beira Interior
Novembro
2023
Ter
21
Sinopse
«A Platão não teria passado pela cabeça que um dia se chegaria à propriedade sobre “ideias” e ao intento de proteger juridicamente essa propriedade», notava Günther Anders (1902-1992) em A Obsolescência do Humano.
Ironicamente, os valores materialistas, ou seja, ligados à posse, ao valor de troca e ao consumo, desmaterializaram-se. Não porque tenham desaparecido, mas porque migraram para um mundo das ideias.
Ao mesmo tempo, habitamos um mundo de cópias, de “platonismo industrial”, chamava-lhe Anders. A era do download a que, entretanto, chegámos acentuou esta indústria de ideias. Compram-se e vendem-se boas ideias, conceitos, tão obsolescentes como qualquer gadget ou «última geração» que chega ao mercado. É fazer o upload, circulá-los pelo mundo global e tirar o rendimento em cópias que se descarregam em aplicações ou sites. Também com cidades e pessoas, a aldeia global uma ideia que todos os lugares do mundo reproduzem, cada influencer uma ideia de pessoa que se copia como um download em massa. Já nem faltam influencers virtuais, criados por IA.
Diante de uma vida tão inesperadamente materialista das ideias – a ponto de se perguntar se até as novas ideias filosóficas não surgem sobretudo para lutar por quota de mercado –, e de uma vida tão empobrecida da matéria, não deve estranhar que haja quem, pelo contrário, idealize a presença diante da matéria, a consciência de que até pedras podem ser abraçadas, merecer uma escuta, para lhes sentir a temperatura, a textura, o ruminar interior dos cristais. Espiritualizar a matéria era já o programa da Monadologia de Leibniz.
Ironicamente, os valores materialistas, ou seja, ligados à posse, ao valor de troca e ao consumo, desmaterializaram-se. Não porque tenham desaparecido, mas porque migraram para um mundo das ideias.
Ao mesmo tempo, habitamos um mundo de cópias, de “platonismo industrial”, chamava-lhe Anders. A era do download a que, entretanto, chegámos acentuou esta indústria de ideias. Compram-se e vendem-se boas ideias, conceitos, tão obsolescentes como qualquer gadget ou «última geração» que chega ao mercado. É fazer o upload, circulá-los pelo mundo global e tirar o rendimento em cópias que se descarregam em aplicações ou sites. Também com cidades e pessoas, a aldeia global uma ideia que todos os lugares do mundo reproduzem, cada influencer uma ideia de pessoa que se copia como um download em massa. Já nem faltam influencers virtuais, criados por IA.
Diante de uma vida tão inesperadamente materialista das ideias – a ponto de se perguntar se até as novas ideias filosóficas não surgem sobretudo para lutar por quota de mercado –, e de uma vida tão empobrecida da matéria, não deve estranhar que haja quem, pelo contrário, idealize a presença diante da matéria, a consciência de que até pedras podem ser abraçadas, merecer uma escuta, para lhes sentir a temperatura, a textura, o ruminar interior dos cristais. Espiritualizar a matéria era já o programa da Monadologia de Leibniz.
Info sobre horário e bilhetes
Ter
21.11
18:00
RivoliPequeno Auditório
Informação adicional
- Preço
Gratuito
- Classificação etária
6+
Acessibilidades do espetáculo
Acessível a pessoas em cadeira de rodas
Texto biografia autores
André Barata nasceu em Faro em 1972. Doutorou-se em Filosofia Contemporânea na Universidade de Lisboa. É desde 2002 professor na Universidade da Beira Interior, onde dirige atualmente a Faculdade de Artes e Letras. Também preside à Sociedade Portuguesa de Filosofia. Os seus interesses académicos circulam pela filosofia social e política e pelo pensamento fenomenológico e existencial. Assina regularmente colunas no Jornal Económico e no Público. Publicou vários livros de ensaio, como “Metáforas da Consciência” (Campo das Letras, 2000), sobre o pensamento de Jean-Paul Sartre, “Mente e Consciência” (Phainomenon, 2009), conjunto de ensaios sobre filosofia da mente e fenomenologia, “Primeiras Vontades – sobre a liberdade política em tempos árduos” (Documenta, 2012). Mais recentemente publicou na Documenta uma trilogia - “E se parássemos de sobreviver – Pequeno livro para pensar e agir contra a ditadura do tempo” (2018); “O Desligamento do mundo e a questão do humano” (2020) e “Para viver em qualquer mundo - Nós, os lugares e as coisas" (2022).